Dia desses, conversando com a minha terapeuta, falávamos sobre os últimos 3 meses da minha licença médica que está chegando ao fim na semana que vem. Compartilhei com ela o meu incômodo constante com o desconhecido, mas também a sensação de liberdade que esse novo momento está trazendo.
Falamos sobre o cuidado com a minha saúde mental e as microagressões que sofri no trabalho (que demorei tempo demais para perceber). Falei pra ela sobre a dificuldade em passar por esse período de transição enquanto longe to trabalho. As incertezas são muitas: da posição que estou hoje na empresa, da empresa em si, do salário que tenho, das minhas prioridades pessoais e profissionais.
“Você precisa aprender a sustentar a incerteza, Mariana" - ela me disse.
Isso me fez refletir que sei muito pouco lidar com a incerteza e com a falta de estabilidade. A ansiedade me apressa. E a nossa alma odeia pressa.
Como seres humanos e animais, nosso cérebro evita ao máximo o que nos é desconhecido e nos enrolamos no cobertorzinho da zona de conforto.
Preferimos correr para a resposta, sem entender que fazer as perguntas, analisar as opções e dar as mãos para a incerteza são as melhores partes do processo. A resposta é consequência.
Uma resposta que jamais teríamos se evitássemos todo e qualquer tipo de reflexão.
Sustentar a incerteza é refletir. Sustentar a incerteza é ficar confortável no desconhecido. Sustentar a incerteza é expandir.
É dar espaço para as possibilidades que nos habitam e que habitam o mundo. É não querer pular para uma resposta imediata. É deixar o acaso te surpreender. É ter fé que, ao dar aquele salto que tanto te põe medo, haverá um paraquedas para te sustentar.
“Como sustentar a incerteza?” - me perguntei durante toda a semana que passou.
Aprendendo que a certeza é uma ilusão.
Nada é garantido. O amanhã não é garantido. O trabalho estável não é garantido. A saúde não é garantida. Ter as pessoas que você ama ao seu lado, amanhã, não é garantido. Toda e qualquer certeza é uma ilusão. Uma certeza que temos é a presença desse exato segundo. A outra certeza é que vamos morrer.
Tenho lido bastante sobre estoicisimo, e uma de suas principais ideias é o memento mori, que em tradução literal significa: lembre-se que você vai morrer. Por favor, não quero que você leia isso com nenhuma morbidez. (A vida é linda, os pássaros cantam, o céu é azul, e o Bolsonaro não é mais presidente do Brasil. A vida é linda).
Quero que você leia com o entendimento que, se não há garantia de nada, a não ser do presente e da morte, então, concluímos que nossa vida é uma sequência infinita de incertezas.
“E saber sustentar as incertezas é saber sustentar a vida” - respondo a mim mesma.
A maneira que encaramos as incertezas da vida diz muito sobre como encaramos os problemas e imprevistos que nos são apresentados. A vida não é fácil, a vida não é justa e a vida exige muito de nós.
Vou, assim, pensando que o significa da vida é a própria jornada de aprender a viver. A jornada de se auto-conhecer. A encarar cada incerteza como uma grande possibilidade de aventura, alegria e aprendizado.
E se você acompanha essa newsletter há algum tempo, sabe que gosto de terminar com uma pergunta. A de hoje vem assim, pra que você reflita sem pressa, sem medo, e tendo fé no paraquedas:
Qual incerteza você está tentando apressar?
Com carinho e até semana que vem,
Mari
muito a refletir. muito. muitas incertezas por aqui e a angústia que elas me trazem. ansiedade. medo. que texto precioso, Mari!!!