Hoje começa mais uma edição da Grace Hopper Celebration, a maior conferência para mulheres em tecnologia do mundo, na Flórida. Em 2017, participei como scholar; em 2018 recebi o prêmio Pass It On; em 2019, fui como recrutadora da Dell e palestrante; e nos últimos anos, como mentora e participante virtual. Desde 2018, avalio as aplicações das bolsas de estudos e mentoro mulheres se preparando para participar da conferência.
Esse ano, não foi diferente, mentorei 43 mulheres em 2 semanas! E a pergunta que mais recebi foi: “Como fazer para me destacar em frente aos recrutadores?”. Depois de ouví-las, conhecer mais de suas histórias e ler seus currículos, as respostas variavam, porém partiam de uma mesma premissa: “O que irá fazer você se destacar é sua história e aquilo que acha ser sua fraqueza é, justamente, o seu super-poder”.
Percebo que nós mulheres temos muita dificuldade em contar nossas histórias. Temos medo e receio de compartilhar (o que acreditamos ser) nossas vulnerabilidades.
Temos medo de não sermos compreendidas porque o inglês não é nossa língua materna, ou porque temos um gap de 2 anos no currículo por termos saído do mercado de trabalho para cuidar dos nossos filhos ou dos nossos pais, ou porque não temos um diploma formal em ciência da computação. Nos esquecemos de todas as outras habilidades e competências adquiridas a partir dessas experiências: mulheres que falam duas línguas ou mais, que trabalharam em mercados globais, que gerenciam a planilha financeira da família (e do negócio da família), que têm uma formação sólida na área da saúde ou da música e decidiram se aventurar na tecnologia e hoje podem bater no peito com orgulho e dizer que são multidisciplinares, criativas e muito, mas muito, inovadoras.
Ouço as histórias dessas mulheres e fico impressionada, pensando: “Como ajudá-las a enxergar que suas histórias são fascinantes justamente por conta dos momentos que elas pensavam que estavam mais frágeis e vulneráveis?”.
Meu papel como mentora não é dar as respostas, mas fazer as perguntas certas para que elas encontrem seus próprios caminhos.
A pergunta: “Como fazer para me destacar em frente aos recrutadores?”, geralmente vem seguida de algumas outras: “Preciso aprender uma nova linguagem de programação? Preciso buscar um treinamento formal em uma graduação na área? Onde estou errando?”. Como se a solução fosse somente se desenvolver tecnicamente.
Não me entenda mal: adquirir certificações, buscar cursos, se profissionalizar, fazer treinamentos - todos essas experiências são necessárias, porém precisam ser complementadas com o desenvolvimento de habilidades interpessoais, de comunicação e liderança. As empresas não buscam um robô, as empresas buscam seres humanos pensantes capazes de fazer correlações entre diferentes áreas do conhecimento. As empresas de tecnologia buscam criatividade, inovação e profissionais resolvedores de problemas.
A sua história (e como você a conta) faz parte dessa equação. E é justamente aí que mora o seu super-poder.
"Nós estamos sempre deixando orfãos partes de nós que estamos ou com medo de não conseguir proteger, ou que vão nos puxar para trás. E cada vez que fazemos isso nós tiramos um pouco do nosso próprio poder." - Brené Brown
Como ser autêntico em um mundo que espera que sejamos todos iguais?
A autenticidade te ajuda a encontrar a sua voz, em um mundo que espera que sejamos todos iguais, usemos as mesmas roupas, tenhamos as mesmas aparências e consumamos o que todos consomem.
Abaixo, alguns pontos de reflexão que te ajudarão a exercitar o músculo da busca pela autenticidade.
Não se compare. Sei que é difícil, a comparação é intrínseca ao ser humano. Mas é essencial fazer um exercício de auto-reflexão toda vez que você entrar em um loop de comparação. Viu uma postagem no LinkedIn ou Instagram que te deu um gatilho? Reconheça que isso aconteceu, não negue o sentimento e reflita: “Essa é apenas uma emoção, não é quem eu sou. O caminho dessa pessoa é diferente do meu. Eu sou única na minha própria caminhada e não existe no mundo ninguém igual a mim”.
Tenha uma conversa honesta consigo mesma. Pergunte-se: “Eu estou fazendo isso por que eu gosto ou por que tenho crenças (familiares, religiosas, culturais, de amigos) que me fazem acreditar que gosto disso?”. Explore os seus interesses, por você, e não para a buscar aprovação do outro ou para se encaixar.
Respeite-se acima de tudo. Porque fazemos promessas para os outros e as cumprimos, mas quando fazemos a nós mesmas, não tratamos da mesma maneira? Prometi que iria me exercitar 6 vezes na semana, durante 3 meses. Sigo por quase 2 anos. Passei a dizer cada vez mais nãos para projetos e respeitar meu tempo, limites e desejos. Hoje, posso dizer que sou a pessoa que mais me respeita, e ter esse relacionamento comigo mesma está sendo a lição mais preciosa de 2023.
Faz parte do ser humano buscarmos por grupos que possamos nos sentir pertencentes, mas é importante que encontremos a nossa voz e o nosso próprio caminho. É essencial que saibamos contar nossas histórias, com todos os seus altos e baixos. A busca pela autenticidade é feita através de auto-conhecimento e reflexão. E ela deve ser feita não só para o seu desenvolvimento profissional, mas também pessoal.
Que sua jornada seja sempre cheia de aprendizados, e que você se encontre e se reconheça cada vez mais nessa caminhada.
Com carinho e até semana que vem,
Mari ◡̈
Que essas 43 mulheres multiplique por 430, 4300, 43000. Que você continue sendo a inspiração de muitas mulheres que ainda tem receio de serem autênticas.